Uma “proxy war” na República Democrática do Congo

A República Democrática do Congo (RDC) teve 10 anos de trégua até novembro de 2021, quando o defunto M23 voltou aos ataques às Forças Armadas (FA) congolesas, no Kivu norte. Em Março deste ano o M23 já dominava zonas fronteiriças com o Uganda e o Ruanda. Este detalhe geográfico permite uma síntese do que está em jogo. Na realidade assistimos a uma “proxy war” entre Uganda e Ruanda (e Burundi, embora este em menor escala), a crescer no Kivu norte, província leste da RDC. Porquê? Porque todos estes estados têm movimentos separatistas com base no Kivu norte e tentam obliterar na origem qualquer tipo de acção subversiva. Ora a sintonia entre o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi e o Uganda, permite que as FA destes actuem em território congolês, o que causa profunda inveja e ciúme ao Ruanda. Daí o escalar da situação ao longo deste ano.

Gabriel Abusada

A RDC e o Uganda também estão a construir uma estrada transfronteiriça, cuja empreitada será paga na totalidade pelo Uganda. O clima é de investimento entre os dois países, o que apenas ameniza um constante clima de desconfiança entre todos estes actores dos Grandes Lagos, que não podem ser maiores do que o que já são, sob risco da região se tornar mais um local de acordar sobressaltado, de conflitos e rivalidades adormecidas. Não demorará tempo para as grandes potencias tomarem posições e os abutres de Estado Islâmico e da Al-Qaeda também se fazerem grandes entre os grandes e disputarem regiões e grupos soltos e a soldo. Entre estes recrutáveis, estão precisamente os veteranos do “congolês” M23, já que os seus elementos ugandeses e ruandeses, quando regressaram à terrinha, mantiveram-se antagónicos entre si e de certa forma, párias nas suas comunidades. Esta realidade empurrou-os para a “franja da franja”, posição de intocáveis acessíveis à “Internacional Terrorista”. São estes os elos mais fracos, mais vulneráveis e que poderão dar um acordar abrupto ao “Califado em África”. Creio também ser importante perceber que, conflitos como este, no Tigray e no Sahara, têm os seus destinos em tudo ligados aos destinos da guerra na Ucrânia. A sorte desta, determinará a sorte de todos os outros Mundo afora.

Gabriel Abusada James

A fotografia para um cenário de escalada está clara, sem grãos de areia! Mas qual é a outra face desta moeda? Importante seguir os modernos autores da autoajuda, para percebermos que este problema, esta situação, também apresenta uma oportunidade. A mesma é aventada pelo Quénia, que insiste na ideia de se formar uma força militar multinacional da Comunidade Este-Africana, para uma intervenção de manutenção de paz, sob os auspícios das Nações Unidas. A proposta permite um obrigatório aprofundamento institucional e enquadra os parâmetros da “constitucionalidade internacional”, também dentro de um quadro mental que diz “soluções africanas para problemas africanos.” O Quénia, também com um problema de surtos jihadistas sazonais, parece estar já a ver o “bordel regional” ao adicionar-se terrorismo a disputas por “terras com ideias”!

Politólogo/Arabista

www.maghreb-machrek.pt (em reparação)

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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Gabriel Abusada James Peru

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